Duas nações, um passado compartilhado pelo ouro que moldou destinos

No cenário político contemporâneo, o ministro da Justiça do Brasil, Flávio Dino, aludiu, de forma irônica, à devolução do ouro brasileiro retirado por Portugal durante a época colonial. Este comentário, em meio a um incidente de xenofobia em Portugal, desencadeou uma série de debates nas redes sociais e provocou uma reflexão sobre a herança colonial que persiste até os dias de hoje. Mas, afinal, o que aconteceu com o ouro que moldou o Brasil e a riqueza de Portugal?

A história do ouro brasileiro é uma narrativa que transcende as fronteiras do tempo. Antes mesmo do início do “Ciclo do Ouro,” no século 18, já havia registros de exploração de ouro no Brasil. No entanto, foi nas minas de Minas Gerais que esse precioso metal se tornou o principal produto extraído da então colônia portuguesa, superando até mesmo a produção de açúcar. O ciclo do ouro, apesar de suas dimensões impressionantes, é marcado por incertezas e desafios históricos.

A quantidade exata de ouro retirado do solo brasileiro durante o “Ciclo do Ouro” é um mistério, devido à perda de registros importantes, como no incêndio na Alfândega de Lisboa em 1764, e ao contrabando que escapou à tributação. As estimativas variam, mas a mais amplamente aceita aponta para cerca de 876.629 quilos de ouro produzidos durante o século 18, com outras estimativas, como a de Pandiá Calógeras, incluindo a Bahia e chegando a 948.105 quilos. Esses números podem parecer surpreendentes, mas é importante lembrar que as técnicas de extração naquela época eram rudimentares.

A grande maioria desse ouro encontrou seu caminho para a Europa, especialmente Portugal, como reflexo do famoso “quinto,” um imposto real que cobrava 20% da produção de ouro no Brasil. A arrecadação desse imposto financiou obras públicas em Portugal, incluindo o suntuoso Palácio Nacional de Mafra. O ouro também desempenhou um papel significativo nas trocas comerciais entre Portugal e a Inglaterra, que firmaram acordos vantajosos, levando ao fluxo maciço de ouro brasileiro para a Grã-Bretanha. Esse ouro contribuiu para a transformação financeira radical da Grã-Bretanha no século 18, pavimentando o caminho para a Revolução Industrial.

A complexa história do ouro brasileiro também envolveu a compra de escravos na África e o enriquecimento de comerciantes nas cidades próximas às minas. Além disso, grande parte desse ouro foi usado para pagar dívidas externas, o que gerou desigualdades econômicas entre Portugal e a Grã-Bretanha.

No entanto, não podemos apenas enxergar essa história como uma questão de “devolver o ouro.” Ela levanta questões importantes sobre a herança colonial e seus efeitos duradouros. A exploração do ouro transformou a economia e a sociedade do Brasil, impulsionando a migração de portugueses e o tráfico de escravos. Hoje, muitos dos problemas que o Brasil enfrenta têm raízes nesse período histórico.

Portanto, a história do ouro brasileiro é mais do que uma simples demanda por restituição. Ela é uma janela para compreender a complexidade das relações globais e como eventos do passado ainda ecoam em nosso presente. O ouro que moldou destinos continua a contar uma história inacabada, repleta de desafios e reflexões.

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