A Petrobras, empresa de destaque no cenário energético brasileiro, pode desempenhar um papel crucial na liderança da transição energética do país, afirma a economista Renata Belzunces, do Departamento Intersindical de Estatística de Estudos Socioeconômicos (Dieese). No entanto, essa transição requer uma abordagem mais profunda do que a lógica simplista de “explorar cada vez mais petróleo para deixar de explorar petróleo.”
Belzunces adverte contra a ideia de que a transição energética seja apenas uma questão técnica, enfatizando que ela também deve ser justa. Isso significa considerar não apenas a mudança nas fontes de energia, mas também como essa transição afeta os trabalhadores e as regiões envolvidas.
A Questão da Transição Energética
A transição energética envolve a mudança das fontes de obtenção de energia, tanto para a matriz energética quanto para a matriz elétrica. No contexto mundial, a grande maioria das fontes energéticas (85%) é não-renovável, oriunda de fontes fósseis. No Brasil, essa proporção é mais equilibrada, com 48,4% de fontes renováveis, mas ainda há um desafio considerável.
A principal armadilha a ser evitada é a ideia de que explorar mais petróleo é a solução para financiar outras fontes de energia. Isso equivale a tentar perder peso comendo mais. O verdadeiro desafio é reduzir a dependência de fontes não-renováveis, como o petróleo, e promover uma distribuição de renda mais igualitária por meio da geração de energia. A transição energética também deve considerar o impacto ambiental e social, especialmente em setores como o carvão, que emprega muitos trabalhadores diretamente e indiretamente.
O Papel da Petrobras na Transição Energética
A Petrobras tem a oportunidade de liderar a transição energética no Brasil, mas isso requer uma mudança de foco. Em vez de aumentar a exploração de petróleo, a empresa deve concentrar-se na pesquisa de fontes renováveis e na ampliação do parque de refino, para que possa contribuir efetivamente para o desenvolvimento do país em termos energéticos.
Impactos Econômicos e Ambientais
A mudança na produção e no consumo de energia tem implicações econômicas e ambientais significativas. É importante não apenas incentivar mudanças no consumo, como reduzir o uso de plásticos, mas também modificar a produção. A redução de subsídios para combustíveis fósseis e o aumento do investimento em fontes renováveis são passos importantes nessa direção.
Desafios à Implementação da Transição Energética
Recuperar as políticas ambientais e promover uma governança eficaz são os primeiros obstáculos a serem superados. É fundamental que órgãos de Estado trabalhem em conjunto para criar políticas transversais de meio ambiente, não apenas no Ministério do Meio Ambiente, mas em todos os ministérios.
Além disso, a redistribuição de recursos públicos é essencial. Os recursos devem ser direcionados para setores que promovam a transição energética, enquanto são retirados dos setores que precisam diminuir sua pegada ambiental. No entanto, essa redistribuição enfrentará resistência, tornando necessário oferecer alternativas para os trabalhadores e comunidades afetados.
Uma Transição Energética Justa
A transição energética é, portanto, uma questão complexa que não se limita apenas às questões técnicas. Ela também é social e política, exigindo a participação de todos os atores envolvidos. A busca por uma transição energética justa envolve não apenas a mudança nas fontes de energia, mas também a consideração das implicações sociais e a promoção de políticas que beneficiem a todos os segmentos da sociedade.