Salvador Verde: Hortas Urbanas Cultivam Conexão com a Terra e a História

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O Renascimento Agroecológico nas Entranhas Urbanas

Em meio ao concreto imperturbável das cidades, onde a vida tende a perder suas raízes na natureza, Salvador floresce com um movimento singular. Cerca de 50 hortas comunitárias brotam como oásis, entrelaçando a agroecologia com a vida urbana. Essas hortas não são apenas berços de alimentos saudáveis; são templos da sustentabilidade e pontos de reencontro com a terra.

Clara Domingas, pesquisadora e membro ativo do Fórum Permanente de Itapuã e do Conselho Gestor da APA Lagoas e Dunas do Abaeté, enfatiza a essência do processo. A criação de uma horta começa com o entendimento profundo do ecossistema que a envolve, uma busca pela restauração da harmonia ecológica em áreas que, muitas vezes, já foram negligenciadas.

A seleção das culturas a serem plantadas é guiada pelo desejo de resgatar as espécies nativas, não apenas reinserindo-as no solo, mas também tecendo histórias e interações com a fauna local. É uma visão holística que não trata as plantas como entidades isoladas, mas como parte de um intrincado ecossistema.

No entanto, a jornada transcende a agricultura. As hortas são fios que tecem uma teia social e cultural, uma jornada de resgate às raízes, à história, e à valorização dos pequenos agricultores. Cidades como Itapuã, outrora voltadas para a pesca, a criação de gado e a produção de alimentos, reconectam-se com sua herança agrícola.

A valorização dessas culturas e a memória ancestral se entrelaçam nas hortas urbanas, estreitando laços entre a comunidade e o solo que a sustenta. Debora Didone, idealizadora do projeto Canteiros Coletivos, enfatiza a importância de cultivar espécies familiares que evocam memórias e tradições. Ela transforma jardins em espaços interativos que se ligam à herança cultural e não se limitam à ornamentação.

A harmonia com a natureza é crucial. O conhecimento do ecossistema no qual a horta será implantada é essencial para garantir a qualidade dos cultivos. Em áreas contaminadas, estruturas elevadas ou vasos são preferíveis para evitar a contaminação dos alimentos. Quando o plantio direto é viável, a combinação de árvores nativas auxilia na restauração do solo.

As hortas urbanas abraçam a agroecologia como filosofia, buscando replicar os princípios da floresta. Elas representam uma resistência à expansão implacável das cidades, onde cada metro quadrado se torna disputado terreno, muitas vezes à custa de áreas verdes.

Além do aspecto ecológico, essas iniciativas lutam pela soberania alimentar, especialmente nas comunidades de baixa renda, onde o acesso a alimentos frescos é limitado e a dieta é frequentemente dominada por produtos ultraprocessados. Cultivar alimentos saudáveis nos vazios urbanos é uma forma de transformar a relação das cidades com a natureza e com o alimento.

Escolas também podem desempenhar um papel essencial nesse processo. Elas podem ser o terreno fértil para hortas que envolvam a comunidade escolar, estimulando o aprendizado prático e a conscientização sobre a importância da agricultura e da alimentação saudável. Os espaços verdes nas áreas urbanas, longe de serem meramente decorativos, são parte fundamental do ecossistema, promovendo a conexão com a terra e a qualidade de vida.

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