Revolução no Campo: Máquinas Chinesas Impulsionam Agricultura Familiar no Nordeste Brasileiro

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Pioneira parceria entre Consórcio Nordeste e instituições chinesas abre caminho para a modernização da agricultura familiar na região

Novembro e dezembro de 2023 marcam a chegada de uma inovação agrícola nas terras nordestinas do Brasil. A região testemunhará a aterrissagem de aproximadamente 30 máquinas agrícolas chinesas, um marco que promete revolucionar a agricultura familiar no Ceará, Maranhão, Paraíba e Rio Grande do Norte.

Estas máquinas, que incluem micro-tratores, roçadeiras, semeadeiras e plantadeiras, têm como destino áreas produtivas da agricultura familiar, abrangendo desde assentamentos do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra até organizações como o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Apodi (RN).

Na cidade de Apodi, no Rio Grande do Norte, será instalada a Unidade Demonstrativa Brasil-China de Máquinas Agrícolas, um local destinado ao teste e estudo do maquinário em solo nordestino.

O Consórcio Nordeste deu início a essa promissora colaboração em 2022, quando assinou um memorando de entendimento com o Instituto Internacional de Inovação de Equipamentos Agrícolas e Agricultura Inteligente da Universidade Agrícola da China, bem como a Associação de Fabricantes de Máquinas Agrícolas da China. A Baobab Associação Internacional para a Cooperação Popular também participa desse esforço conjunto, buscando garantir acesso a máquinas especialmente projetadas para atender às necessidades do campesinato, incluindo micro-tratores, roçadeiras, semeadeiras e plantadeiras.

Alexandre Lima, coordenador da Câmara Temática da Agricultura Familiar do Consórcio Nordeste, ressalta a importância desta parceria para a região, onde a mecanização agrícola ainda é incipiente: “A região Nordeste do Brasil possui menos de 3% de mecanização, enquanto no Brasil como um todo, esse índice não ultrapassa 14%. Em contrapartida, na região Sul, a mecanização da Agricultura Familiar chega a quase 50%.”

Essa aproximação entre Brasil e China, dois gigantes do campesinato, abre novas perspectivas para o fortalecimento da agricultura familiar no Nordeste brasileiro.

Uma Revolução Compartilhada

No Brasil, a agricultura familiar representa 77% de todos os estabelecimentos agrícolas, mas ocupa apenas 23% das áreas agricultáveis. Na China, mais de 80% da agricultura é realizada por camponeses, incluindo cooperativas e empresas estatais, que cultivam mais de 70% das terras agricultáveis do país. A mecanização agrícola na China se tornou uma prioridade durante o Grande Salto para Frente liderado por Mao Zedong em 1959, e seu avanço significativo ocorreu no período de Reforma e Abertura a partir do final dos anos 70.

João Pedro Stedile, da direção nacional do MST, destaca que, com base na estrutura de pequenas unidades de produção criada através da reforma agrária, a China desenvolveu máquinas para esse tipo de camponês: “Na China, existem 8 mil fabricantes de tratores. No Brasil, temos apenas quatro grandes fábricas de tratores, todas multinacionais e voltadas para a grande propriedade e grandes máquinas”, afirma Stedile, que visitou o país asiático em 2023.

A professora Yang Minli, da Universidade de Agricultura da China, considera que há semelhanças notáveis entre a agricultura familiar no Brasil e na China. O modelo de desenvolvimento chinês para os camponeses, que envolve serviços comerciais e cooperativas de maquinaria agrícola, é altamente adaptável ao Brasil.

A migração em massa do campo para a cidade na China, que resultou em um aumento da urbanização de 17,92% em 1978 para 65% em 2022, desempenhou um papel fundamental na mecanização agrícola. O rápido desenvolvimento econômico criou uma demanda significativa por mão-de-obra nas indústrias e serviços urbanos, proporcionando oportunidades de alta renda para trabalhadores migrantes rurais.

A partir de 2004, a China lançou uma campanha de subsídios para a compra de máquinas agrícolas, destinando mais de R$ 82 bilhões de reais para subsidiar a compra de mais de 35 milhões de máquinas agrícolas. Durante esse período, a mecanização agrícola na China saltou de 33% para 61%, e atualmente atinge 73%.

Uma das razões para essa mudança foi garantir que os camponeses tivessem acesso direto às máquinas, evitando endividamento. Esse modelo foi eficaz, permitindo que os camponeses compartilhassem tanto os custos quanto as máquinas.

Segurança Alimentar e Prosperidade

Um estudo publicado por universidades chinesas em 2022 destacou que a mecanização agrícola não precisa ser implementada em larga escala para ser benéfica. A pesquisa demonstrou que a utilização de máquinas em pequenas propriedades teve um papel fundamental para garantir a segurança alimentar e reduzir a pobreza no meio rural chinês.

A professora Yang Minli enfatiza que a estrutura de pequena agricultura permite à China alcançar suas metas de segurança alimentar, com a produção de cereais mantendo-se acima do objetivo de 650 milhões de toneladas anualmente.

Essa parceria com instituições chinesas não se limita à mecanização agrícola no Nordeste. É também um intercâmbio de conhecimento sobre políticas públicas, onde a experiência chinesa pode fornecer valiosas lições sobre como as políticas públicas podem chegar efetivamente às comunidades rurais.

Os envios das máquinas estão previstos para chegar entre novembro e dezembro de 2023, com a inauguração da unidade demonstrativa em Apodi (RN) e a implementação do maquinário nas demais áreas previstas para fevereiro do próximo ano.

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