O Brasil testemunha um tumulto incomum nos shoppings do país, à medida que multidões fanáticas, lideradas por bolsonaristas e apoiadores de correntes evangélicas, inundam as salas de cinema em uma campanha fervorosa de promoção do filme “Som da Liberdade”, dirigido por Alejandro Gómez Monteverde. Embora a trama gire em torno do tráfico internacional de crianças, questões controversas pairam sobre esta produção, que parece explorar uma temática sensível para difundir ideais fundamentalistas.
O engajamento de bolsonaristas e radicais de direita com o filme é tão intenso que ele atualmente lidera as bilheteiras no Brasil. Relatos sugerem que até mesmo a própria família Bolsonaro estaria envolvida na distribuição de ingressos. Como resultado, multidões fervorosas invadem os shoppings, entoando cânticos de louvor e comportando-se como uma verdadeira horda. Em Santa Catarina, policiais militares também aderiram à campanha e convocaram ideologicamente alinhados com a extrema direita e agendas ultraconservadoras para lotar as salas de cinema.
A controvérsia em torno do filme não para por aí. O enredo se baseia em eventos reais envolvendo Tim Ballard, um norte-americano retratado como herói no filme, mas também acusado de abuso sexual na vida real. Essas alegações levantam questões sérias sobre a mensagem que o filme está transmitindo e a promoção entusiástica que está recebendo de grupos de direita.
O diretor Monteverde aborda o tráfico de crianças em sua obra, mas a conexão com Ballard, um indivíduo envolto em acusações de má conduta, adiciona uma camada adicional de complexidade à narrativa. Essa controvérsia ressoa não apenas no Brasil, mas também nos Estados Unidos, onde o filme atraiu a atenção de extremistas de direita conhecidos como QAnon, que propagam teorias da conspiração sobre uma suposta conspiração global envolvendo abuso infantil.
A criação de inimigos imaginários é uma tática que ecoa em movimentos de extrema direita em todo o mundo, e o filme “Som da Liberdade” parece ser uma ferramenta para a divulgação dessas teorias conspiratórias. Lola Aronovich, professora universitária, observa que “Não é à toa que ‘Som da Liberdade’ se tornou um favorito da extrema direita em todo o mundo. Ele é uma plataforma para disseminar teorias da conspiração que eles tanto acreditam. Essas teorias fictícias parecem ser mais importantes do que o próprio filme.”
É importante notar que, no mês passado, um grupo de mulheres acusou Tim Ballard de assédio sexual, manipulação espiritual, aliciamento e má conduta. Essas alegações lançam uma sombra sobre a figura central do filme, que é retratada como um herói. Enquanto a ficção aborda a luta contra o abuso infantil, a realidade traz sérias preocupações sobre o comportamento do indivíduo em que o filme se baseia.