Em um desfecho digno de um drama shakespeariano, a relação de quase meio século entre a Globo e a oligarquia Collor de Mello parece caminhar para um trágico término. O enredo, que mistura política, corrupção e intrigas familiares, é tão complexo quanto a história recente do Brasil.
Se fosse uma obra do cordel, o título poderia ser “O triste fim do casamento da oligarquia decadente com a Vênus Platinada”. Este conto começa em 1974, quando a Ditadura Militar, pelas mãos do ditador Ernesto Geisel, presenteia a família Marinho com a concessão da TV Gazeta de Alagoas. Uma união que floresceu sob a sociedade entre o senador Arnon de Mello (pai do ex-presidente Collor) e o magnata carioca Roberto Marinho.
O auge desse romance ocorreu em 1989, quando a manipulação do debate eleitoral entre Lula e Collor foi urdida pela equipe de jornalismo da Globo, favorecendo o “caçador de marajás”. José Bonifácio de Oliveira, diretor da emissora na época, confessou a fraude, revelando detalhes do esquema que incluíam até mesmo a maquiagem de Collor para torná-lo mais “suado” e populista.
A relação sofre uma reviravolta agora, tornando-se pública com a intenção da Globo de cortar os laços de transmissão com a TV Gazeta de Alagoas, afiliada por 48 anos. O motivo alegado é a recente condenação de Collor pelo STF, em um esquema de corrupção que envolveu o caixa da emissora alagoana.
Contudo, a diretoria da Gazeta recusa-se a aceitar o fim do contrato, recorrendo à Justiça para evitar o desligamento, agendado para o final de dezembro. A Globo, por sua vez, classifica a reação como “covarde”.
O desfecho desta trama parece indicar que a TV Asa Branca, retransmissora global em Caruaru, assumirá o papel de protagonista a partir de 2024, substituindo a afiliada alagoana. Uma mudança que vai além de questões empresariais, trazendo à tona memórias de escândalos, corrupção e uma reviravolta que abalou o país: foi por meio da Gazeta que Pedro Collor denunciou o esquema criminoso que levou à queda do presidente Fernando Collor.
