Henry Marsh, o renomado neurocirurgião inglês, cujo bisturi e caneta esmiuçaram as complexidades do cérebro e da vida, agora compartilha seu capítulo mais íntimo em “E Por Fim – Questões de Vida e Morte”.
Desde os 12 anos, Marsh manteve um diário que, por décadas, permaneceu destinado aos olhos da família. No entanto, a sugestão de transformar suas experiências em palavras moldou o destino de Marsh, resultando em obras aclamadas como “Sem Causar Mal” e, agora, em “E Por Fim”.
Seu estilo direto, carregado de reflexões profundas sobre a medicina e a existência, ressoou globalmente. Traduzido para quase 40 idiomas, Marsh não apenas abriu a porta para os bastidores da neurocirurgia, mas também mergulhou nas águas profundas da vida e da mortalidade.
Uma Perspectiva Íntima: Da Cirurgia à Condição de Paciente
No novo livro, Marsh revela o capítulo mais desafiador de sua vida. Diagnosticado com câncer de próstata avançado após anos de retiro, o médico que já foi o curador torna-se paciente. As páginas agora ecoam suas reflexões sobre a limitação do tempo de vida e a seriedade que a doença impõe à existência.
Marsh compartilha a transição de médico prestigiado a paciente, destacando a dificuldade de aceitar a própria humanidade diante da responsabilidade médica. Ele discute a complexidade de equilibrar gentileza e distanciamento científico, abordando a difícil responsabilidade que recai sobre os ombros dos médicos.
Reflexões Sobre a Profissão: Entre Triunfos e Fracassos
Ao longo da entrevista, Marsh revela que, como médico, ele se recorda mais dos fracassos do que dos triunfos. Confessa que, ao escrever sobre pacientes, não se lembra dos sucessos, mas sim dos momentos em que as coisas não foram conforme o planejado. Sua visão, muitas vezes emotiva, destaca a complexidade da relação médico-paciente e a necessidade de equilíbrio emocional.
Ele enfatiza a dificuldade de ser um médico gentil em um campo frequentemente acusado de frieza, ressaltando a responsabilidade estressante que os médicos carregam pela vida de outras pessoas. Apesar disso, Marsh expressa seu amor pela profissão e a dificuldade de encontrar equilíbrio entre preocupação e distanciamento.
A Filosofia que Molda Pensamentos: Da Política à Neurocirurgia
Marsh, inicialmente interessado em filosofia e política, revela influências marcantes, especialmente a do filósofo Karl Popper. Ele destaca a importância de explorar grandes questões de forma simples e acredita que a escrita eficaz exige submissão a críticas e uma extensa leitura.
O Futuro e a Morte Assistida: Uma Perspectiva Pessoal
À medida que discute o envelhecimento e a mudança de apetite pelo risco, Marsh também compartilha sua visão sobre a morte assistida. Defende a necessidade de evidências e provas para apoiar a prática, destacando a evolução gradual de perspectivas sobre temas sociais, como o casamento gay.
Legado e Próximos Passos: A Vida Após a Neurocirurgia
Surpreendentemente frio e clínico ao descrever o possível desfecho de sua condição, Marsh revela que, mesmo após uma carreira notável, não tem uma lista de desejos. Seu foco está em aproveitar ao máximo o tempo restante, escrever um livro infantil e dedicar-se a causas que o apaixonam, como a Ucrânia e a morte assistida.