A explosiva delação do tenente-coronel Mauro Cid trouxe as Forças Armadas de volta ao epicentro das preocupações em torno de um alegado plano golpista supostamente articulado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
De acordo com Cid, ele testemunhou uma reunião em que Bolsonaro teria consultado a alta cúpula militar sobre um rascunho de um possível golpe, sugerindo até o impedimento da posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e a prisão de opositores políticos.
No entanto, o depoimento de Cid revelou que, entre os presentes, apenas o almirante Almir Garnier, então comandante da Marinha, demonstrou apoio ao plano. O general Freire Gomes, comandante do Exército, teria discordado veementemente e ameaçado prender o presidente caso ele prosseguisse com as ideias golpistas. O brigadeiro Carlos Batista, comandante da Aeronáutica, permaneceu em silêncio.
O pesquisador do Instituto Tricontinental, Jorge Rodrigues, ressaltou que, se as alegações de Cid forem verdadeiras, isso aponta para pelo menos uma possível prevaricação dos militares presentes na reunião. Ele comentou que as revelações de Cid levantam questões sobre a adesão ao bolsonarismo entre os militares, o andamento das investigações na CPMI dos atos golpistas e o papel do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, no governo Lula.
Rodrigues criticou o papel do ministro da Defesa, afirmando: “Eu entendo que a gente não tem um ministro da Defesa. A gente tem um despachante das Forças Armadas junto ao governo federal. A função do ministro é representar a autoridade política e democraticamente eleita junto aos militares. O que o Múcio faz é o processo contrário. Ele representa a voz das casernas junto ao governo federal.”
Após a divulgação do depoimento de Mauro Cid, o ministro minimizou o envolvimento dos militares e afirmou que “muita gente não desejava sair do poder”. Ele também enfatizou a necessidade de identificar os militares envolvidos em planos golpistas para que sejam tomadas providências.
Jorge Rodrigues lembrou que a inclinação bolsonarista e golpista do almirante Garnier era conhecida por quem acompanha o cenário político e militar, agora exposta pela delação de Mauro Cid.