A longa e tumultuada Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) está prestes a chegar ao seu desfecho na próxima terça-feira (26), com a aguardada votação do relatório elaborado pelo deputado federal Ricardo Salles (PL-SP).
Durante os intensos 130 dias de funcionamento da CPI, testemunhamos um conflito público entre parlamentares progressistas e representantes da extrema direita. No entanto, a análise dos resultados da CPI e seu impacto político revelam uma narrativa surpreendente e um sinal de isolamento para a extrema direita.
A cientista política Rosemary Segurado, professora da PUC-SP, ressalta que a CPI parece não ter tido um objetivo político genuíno, mas sim serviu como uma tentativa de desgastar o MST em sua luta legítima pela reforma agrária. Ela critica o desempenho dos parlamentares de extrema direita na comissão, sugerindo que a principal consequência foi o desgaste da imagem da Câmara dos Deputados.
“Ótimo que esta CPI chegue ao fim, porque o que me preocupa não é o desgaste do bolsonarismo ali, mas o quanto estamos prejudicando a imagem da Câmara dos Deputados com essa CPI, levando as pessoas a questionar se esses são nossos representantes e a se afastar da democracia e da política”, ponderou Segurado.
O sociólogo Rudá Ricci, do Instituto Cultiva, lembra que, durante a CPI, os bolsonaristas eram maioria na composição das cadeiras, mas mesmo assim não conseguiram avançar ou justificar a existência da comissão. Ele argumenta que o bolsonarismo saiu enfraquecido e que o MST emergiu como um grande ator político coletivo, defendendo a agroecologia e mantendo uma visão de esquerda e popular.
Ricci destaca a capacidade do MST de se adaptar aos desafios do novo século e do cenário político brasileiro, tornando-se uma força relevante. Ele argumenta que o fracasso da extrema direita na CPI serviu como uma espécie de “vacina”, fazendo com que o país percebesse o tema com uma perspectiva mais crítica e menos suscetível à retórica radical.
No entanto, Ricci lamenta que questões mais amplas não tenham recebido a atenção que merecem no debate público, permanecendo circunscritas à esquerda. Ele observa que, com o fracasso da extrema direita, a CPI foi se tornando cada vez mais uma pauta da bolha progressista, deixando de ser destacada pela grande imprensa como um tópico de relevância nacional.