Uma investigação sem precedentes está lançando luz sobre o passado do Banco do Brasil e sua possível conexão com o tráfico de escravizados durante o século 19. A existência dessa investigação foi revelada exclusivamente pela BBC News Brasil, e agora o banco está sob pressão para reconhecer seu envolvimento, se houve, com traficantes de escravizados e determinar como abordará essa parte obscura de sua história.
Essa investigação pioneira, conduzida por 14 historiadores de 11 universidades, resultou na notificação do Banco do Brasil pelo Ministério Público Federal sobre a abertura de um inquérito para esclarecer o papel da instituição no comércio de escravizados do século 19.
Clemente Penna, professor da Universidade Federal de Santa Catarina e membro da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), explicou em uma entrevista ao podcast “O Assunto” que essa investigação visa promover um debate importante sobre um capítulo frequentemente silenciado da história do Brasil. Ele ressaltou a necessidade de reconhecer o peso significativo da escravidão na formação de instituições como o Banco do Brasil.
Clemente também enfatizou que o sistema financeiro brasileiro do século 19 dependia em grande parte de ativos relacionados ao comércio de escravizados. O “segundo Banco do Brasil”, estabelecido na década de 1850, foi, em grande parte, destinado a reciclar fundos previamente investidos no tráfico de escravos de volta ao mercado.
A conexão histórica entre o sistema financeiro e a escravidão é um tópico que ganha destaque, desafiando o mito de que essas duas esferas da sociedade eram separadas.
O que o futuro reserva para essa investigação? Leandro Machado, o repórter que primeiro trouxe à tona a ação do Ministério Público Federal, revelou que uma reunião está agendada para outubro entre o órgão, a presidência do banco e representantes do governo para discutir medidas de reparação e o reconhecimento dessa história.
De acordo com Machado, o Ministério Público Federal indica que este inquérito civil público pode resultar em uma ação judicial se o Banco do Brasil se recusar a dar respostas satisfatórias. Alternativamente, poderia resultar em um acordo, com o banco reconhecendo sua participação histórica e tomando medidas de reparação, como o financiamento de pesquisas ou políticas para beneficiar a comunidade negra.
