Na rica trama do cenário político global, uma narrativa intrigante emerge, tecida com as linhas da identidade e da polarização. O cientista político Yascha Mounk, conhecido por sua aguda análise, nos guia por esse complexo enredo que envolve a esquerda identitária e a extrema direita populista.
O Enigma de Atlanta
Em um rico subúrbio de Atlanta, Geórgia, uma mãe negra busca matricular sua filha em uma escola pública. No entanto, a diretora da instituição se recusa a aceitar a escolha da família, alegando que aquela não é a classe destinada aos alunos negros. Este não é um flashback para a década de 1940, mas sim uma cena do ano de 2020. A história de Atlanta se torna um dos inúmeros exemplos que Yascha Mounk utiliza para ilustrar o que chama de “armadilha identitária”.
A Síntese Identitária
Mounk delineia como parte da esquerda contemporânea passou a priorizar a identidade em detrimento de outros valores ao formular políticas públicas e se posicionar no debate político. Ele argumenta que, em nome de categorias identitárias como raça, gênero e orientação sexual, a esquerda relegou valores universais, como liberdade de expressão e igualdade de oportunidades, historicamente fundamentais no espectro esquerdista. Isso, Mounk denomina de “síntese identitária”.
Extrema Direita Populista em Ascensão
Ao dominar debates e instituições, a síntese identitária aliena uma parte da população que se sente excluída, abrindo espaço para o crescimento da chamada “extrema direita populista”, representada por figuras como Donald Trump e Jair Bolsonaro. Mounk argumenta que a síntese identitária não resolve o problema de representatividade, pois ao priorizar características de subgrupos, como a raça, deixa de reconhecer méritos objetivos, como o conhecimento e a habilidade.
O Impacto da Síntese Identitária
O cientista político alerta que a síntese identitária, ao influenciar políticas públicas, pode prejudicar grupos vulneráveis. Ele ilustra isso com o exemplo das regras de distribuição de vacinas contra a COVID-19 nos Estados Unidos, onde a equidade racial foi priorizada em detrimento dos idosos, causando disputas e injustiças na alocação de doses.
Polarização e a Busca pela Identidade Compartilhada
Mounk argumenta que a síntese identitária não só polariza a sociedade, mas também contribui para o fortalecimento da extrema direita populista. Ele destaca a importância de reconhecer as injustiças persistentes e lutar por igualdade, mas critica o uso de cotas explícitas, que podem diminuir a qualidade da seleção de candidatos.
Desafios Futuros
O debate em torno da identidade política, liderado pela síntese identitária, promete continuar nos próximos anos. Mounk prevê uma luta prolongada entre defensores das profundas injustiças e da verdadeira igualdade, e aqueles que buscam uma identidade compartilhada como cidadãos de um país que trata todos com respeito e justiça.