Enquanto o mundo enfrenta a crescente urgência de frear o avanço das mudanças climáticas, uma solução eficaz e muitas vezes subestimada está florescendo sob nossos olhos: as agroflorestas. Esses sistemas, que combinam árvores com práticas agrícolas, emergem como uma resposta poderosa para a mitigação das mudanças climáticas e muito mais.
Em um estudo recente publicado na revista Nature Climate Change, cientistas de diversos países, incluindo o Brasil, destacam o potencial extraordinário das agroflorestas. Esses sistemas não apenas sequestram carbono significativamente, mas também contribuem para a segurança alimentar, a equidade social e a biodiversidade.
As agroflorestas, parte das chamadas Soluções Baseadas na Natureza (SbN), têm um potencial de mitigação climática comparável ao do reflorestamento. Estima-se que as agroflorestas em todo o mundo possam armazenar até 310 milhões de toneladas de carbono anualmente, o que equivale à emissão anual de CO2 de aproximadamente 250 milhões de veículos de porte médio.
No entanto, compreender totalmente o impacto climático desses sistemas ainda é um desafio. A diversidade de agroflorestas em termos de espécies, condições do solo, manejo e outras variáveis resulta em variações significativas na quantidade de carbono armazenado. Além disso, mapear agroflorestas em larga escala é complexo devido ao seu tamanho frequentemente reduzido e à sua semelhança com florestas naturais em imagens de satélite.
É importante notar que, em algumas situações, a conversão de florestas em agroflorestas pode resultar em emissões de carbono, contrariando o objetivo de mitigação. Portanto, nem todas as agroflorestas são igualmente benéficas para o clima.
Além de seu potencial climático, as agroflorestas também podem enriquecer o solo com nutrientes e carbono, atrair polinizadores, fortalecer a resiliência climática na produção de alimentos, criar habitats para a biodiversidade e fornecer uma série de benefícios sociais, incluindo geração de empregos e redução da migração rural.
Em regiões onde o desmatamento é alimentado pela expansão da pastagem, como no sudeste do Pará, o uso de agroflorestas com base em cacau está revertendo esse ciclo de degradação. A restauração de terras e a redução do desmatamento são resultados tangíveis de projetos como o Cacau Floresta.
Entretanto, para maximizar o impacto das agroflorestas, são necessários esforços coordenados que incluem assistência técnica, políticas públicas favoráveis, acesso ao mercado e direitos à terra. Além disso, expandir esses sistemas para grandes propriedades rurais, onde monoculturas são predominantes, é fundamental para desbloquear seu potencial total.
À medida que o mundo enfrenta a crise climática, as agroflorestas se destacam como uma solução prática, multifacetada e ecológica. No entanto, para colher os benefícios desses sistemas, é necessário um compromisso global e ação decisiva.