Quando o Clima e a Ignorância Colidem
No pulmão verde do planeta, um turbilhão de eventos climáticos anuncia uma catástrofe. Em um encontro trágico entre o “La Niña” e seu oposto, o “El Niño”, a região amazônica testemunha uma inversão abrupta – de secas a inundações e, ainda mais preocupante, uma estiagem sem precedentes.
Esses fenômenos são inerentes à oscilação cíclica das temperaturas no Pacífico Equatorial, repetindo-se a cada quatro a sete anos. Entretanto, 2023 traz um agravante: o aquecimento anormal das águas do Atlântico Equatorial, impedindo a formação das tão necessárias chuvas amazônicas. O oceano atinge temperaturas nunca vistas, com setembro sendo o mês mais quente da história.
Os impactos são devastadores. Rios caudalosos murcham até se tornarem meros córregos. Comunidades ficam isoladas, enfrentando a falta de comida, água potável e assistência médica. Crianças são impedidas de frequentar escolas, e milhões de peixes perecem devido às águas superaquecidas. O Lago de Tefé (AM), outrora abundante, agora seca, permitindo que as pessoas o atravessem a pé ou de moto até a cidade vizinha de Alvarães.
O cenário não é apenas humanitário; a economia da Zona Franca de Manaus também está em risco, com a produção industrial comprometida. Como consequência, o suprimento de eletrônicos para as festas de Natal em todo o país está ameaçado.
A comunidade científica alerta que os efeitos do “El Niño” podem se estender até meados de 2024, reduzindo ainda mais as chuvas na região. A recuperação da natureza levará anos, enquanto os habitantes, particularmente aqueles que dependem da pesca, continuarão sofrendo.
Os líderes políticos das áreas afetadas procuram bode expiatório, tentando culpar o governo federal pelas péssimas condições das estradas. No entanto, a pavimentação da BR-319, que ligaria Porto Velho (RO) a Manaus (AM), não é a solução imediata para a atual crise. Mesmo que as obras fossem retomadas, levariam mais tempo do que o previsto para o fim do “El Niño”.
Enquanto a estiagem avança, a dissimulação e a negação de problemas urgentes apenas agravam a situação, deixando a região e seus habitantes às mercês do furacão climático. Uma crise ambiental que exige ações concretas e imediatas, enquanto a natureza padece e o negacionismo enfrenta o impacto inevitável da estiagem.